Total de visualizações de página

sábado, 8 de maio de 2010

Sem Palavra, Sem Crédito



Quando tinha mais ou menos uns oito anos, não existiam os grandes supermercados e lembro-me vagamente, que minha mãe fazia as compras numa pequena mercearia que tinha de tudo um pouco e na parede da loja tinha um cartaz a vista de todos com os dizeres: "Sem palavra, sem crédito". Após pegar todos os itens de sua lista, ela sempre tirava uma velha caderneta da bolsa onde todos os itens eram anotados para serem pagos no fim do mês. A palavra empenhada através das anotações daquela caderneta valiam mais do que dinheiro, pois faltando com a palavra o crédito era cortado.



Não quero com essas histórias do meu passado - recente diga-se de passagem - dar início a um discurso saudosista e melancólico, daqueles que sempre terminam com a frase: "aqueles sim, que eram tempos bons"! Mas sim, pensar um pouco sobre questões como: valores, credibilidade, segurança entre outras coisas.

Quando volto o olhar para o "hoje", percebo que assim como o nosso clima, nossa economia, nossa geografia, nossos hábitos, estão mudando muito rapidamente. Mudanças não são o problema, tudo está em constante movimento, tanto as coisas concretas como as abstratas. A terra gira, a ciência revê as suas teses, novas formas de geração de energia são descobertas... Enfim, a questão não está na mudança, mas sim no ambiente onde elas se dão e na velocidade que se dão.

Uma Nação pode mudar seu sistema de governo de forma sangrenta ou de forma amigável; um jovem pode alcançar a maturidade de forma tranquila e natural ou de forma abrupta com violência e muitos traumas. Tudo depende do ambiente em que se vive e do ritmo.

Por causa da velocidade das ações agressivas do homem para com o meio ambiente, a natureza está em desequilíbrio; por causa da impaciência do homem na busca da saúde e da perfeição estética vemos estes se transformarem em cobaias de experimentos inacabados; por causa da busca por um aumento instantâneo de adeptos vemos uma igreja cada vez mais presa a fisiologismos e ativismos, em verdadeiro estado de fibrilação.



Tudo porque estamos nos transformando em "coisas", e coisas podem até mudar, mas de forma imprecisa. Porque coisas não podem identificar e respeitar a poesia, a generosidade e o compromisso, que estão no processo da mudança que respeita a Deus, ao próximo, e que  trazem o real aprimoramento.

O que seria de nós se o dia virasse noite instantaneamente? Não teríamos o deleite de ver o sol surgir no horizonte e nem o seu despedir-se por detrás das montanhas.

Ao observamos as harmoniosas mudanças da natureza aprendemos, por que o  processo é tão importante quanto o produto final, e que a qualidade vem do processo.



A noite pode ser de densas trevas, mas há uma certeza, que o sol virá após algumas horas. Podemos dormir, porque sabemos que o dia virá prontinho sem fazermos força para isso.



Mas é o ambiente? Os valores?
O imediatismo das mudanças é ditado pelo contexto em que vivemos.

O nosso contexto é um contexto de aparências, onde a propaganda é a alma do negócio, onde se conquista espaço por meio de uma imagem bem construída. Porém, há um vácuo entre a realidade real e a realidade aparente e o castelo de cartas está prestes a desmoronar.

Bolhas estouram a todo momento na economia, por causa de falsa solidez nos negócios; famílias aparentemente estáveis desabam sem se saber porque; pessoas de boa reputação são reveladas como verdadeiros monstros.

As garantias, as bases, muito bem maquiadas, já se mostram rotas, o mal cheiro já não tem sido disfarçado com tanta eficiência, os tapetes não conseguem conter tanta sujeira.

Esse é o ambiente do descrédito, onde tudo tem que ser muito rápido, para não perder o valor, para não cheirar mal, para não descobrirem a realidade, para se tirar o máximo de proveito antes que todos saibam.

É o contexto do homem descrente do homem, de tudo o que o homem faz e de tudo o que ele representa. O contexto do homem que aceitou essa realidade destruidora, que aceitou as regras do "jogo", onde quem  melhor fingir é o melhor.

Nossa interatividade precisa de melhores e reais garantias que nos tragam compasso a vida e resgatem a beleza e a oportunidade das mudanças.

Quando penso em tudo isso imagino Deus tal como o dono daquela merceria dos tempos de criança, e vejo no céu as mesmas palavras estampadas no cartaz amarelado da parede: "Sem Palavra, sem crédito".

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails